3 Epistemologia

Como seria este terreno que a caminhada metódica pode percorrer? Quais seriam as possibilidades? Como representar o conhecimento e o processo de adquiri-lo?

Estas perguntas são tipicamente associadas à chamada epistemologia12, o estudo do próprio conhecimento.

Se quero partir em busca de conhecimento, como devo proceder? Por onde começar? Qual seria a minha sequência de aprendizado? Tenho aqui um problema também literário: como encadear meus pensamentos no texto de modo que sejam compreensíveis e interessantes a outras pessoas?

O problema aqui é de quais maneiras o conhecimento pode ser organizado, visitado, atualizado13:

We can formulate our problem in the following terms: by what means does the human mind go from a state of less sufficient knowledge to a state of higher knowledge? The decision of what is lower or less adequate knowledge, and what is higher knowledge, has of course formal and normative aspects.

Posso recorrer a algum manual de estudos, algum roteiro pronto, a ementa de um curso existente ou pedir a alguém que me indique um caminho. Mas isso só transfere o problema da definição do caminho para outrem: como no caso dos guias de viagem, é necessário que alguém tenha primeiro feito a caminhada para que os relatos existam! Como será que esta pessoa procedeu? Ainda: o que garante que esta pessoa fez o caminho mais adequado? Pior: como saber, dentre tantos destinos possíveis, que aquele oferecido é a melhor escolha?

Poderíamos supor que o caminho para algum conhecimento seja uma grande explicação composta de uma sequência de pensamentos. Isto parece assumir que o pensamento só ocorre em sequência – um “pensamento” por vez, seja lá o que isso for, acontecendo apenas depois que o anterior foi concluído. Minha impressão é que nem sempre é este o caso – às vezes sinto que vários pensamentos ocorrem de maneira “difusa”, de que há alguma outra forma de organização para a atividade mental e que “pensamentos” apenas são sequenciados no momento em que ocorre uma conversão para a linguagem.

Enquanto que a descrição do conhecimento – o rastro dos pensamentos escritos ou pronunciados – é um caminho sequencial, o caminho dos pensamentos “em estado bruto” teria alguma outra forma. Caminhos descritivos distintos poderiam ser percorridos dentro deste “espaço mental”, produzindo narrativas de um mesmo conhecimento mas compostas por sequências distintas de pensamentos convertidos em linguagem.

Pela minha intuição, em tal “espaço mental” os pensamentos poderiam estar conectados entre si para além da ligação em série: um pensamento ligado a muitos outros. Não me pergunte como!

Parto sem saber se este espaço mental é infinito em pensamentos e possibilidades. Assim como me parecem ser inumeráveis as possibilidades de viver comentadas na Introdução14, a quantidade de pensamentos possíveis extrapola minha capacidade de contagem.

Mas, ao menos pela minha percepção do exterior, aprendi que meu corpo tem um tamanho finito e tenho a impressão de que penso apenas umas poucas coisas por vez. Minha linguagem também parece ser baseada num limite: apesar de ser possível uma infinidade de combinações, estas são compostas por uma quantidade finita de palavras que conheço, e mesmo se inventar palavras novas estas serão limitadas pelas letras que conheço e sons que consigo emitir.

Minha capacidade de pensar – e consequentemente conhecer e transmitir – parece finita por estas delimitações. Com alguns truques talvez consiga expandir um pouco os limites, porém sempre haverá algum.

A caminhada me ensina que preciso continuar caminhando e que não percorrerei todos os caminhos existentes…

3.1 Referências

References

Piaget, Jean. 1971. Genetic Epistemology. The Norton Library.

  1. (TODO?) breve etimologia↩︎

  2. Piaget (1971) págs. 12-13. Existem alguns pressupostos nessa afirmação: será mesmo que passamos de estágios de menos para mais conhecimento?↩︎

  3. Capítulo 1.↩︎